03/03/2014

São 22h58, segunda feira de carnaval, as minhas meninas foram para a avenida ver os shows e eu fiquei "fuçando" aqui na internet, lendo, estudando, vendo como fazer capas de cadernos, pra arrumar alguma dica pra minha neta, para reutilizar aqueles cadernos que o governo dá, que ela acha sem graça.

Acabei abrindo alguns vídeos e fui me distraindo por aqui. Vi alguns de uma menina que grava tudo que faz, tutorial de como se maquiar, como fazer as capas do livro pra faculdade, o que ela leva na bolsa, contando tudo que faz, até um vídeo de como fazer para se inscrever em faculdades Britânicas, dando dicas para as meninas que querem fazer cursos fora do Brasil.

Acabei achando  a menina muito gracinha, inteligente e espontânea, deve ter por volta de 17/18 anos, madura, linguagem educada, mostrando tudo sobre o dia a dia dela. Vi alguns e até quando ela foi pra Reading, na Inglaterra, quando mudou pra Londres, mostrando as compras, a mãe, o apartamento onde mora e contando detalhes da vida dela em Reading e em Londres. Shoppings, etc...

Fiquei aqui pensando, se fosse uma menina pobre, morando num barraco, numa casa pobre no RJ ou em alguma favela de SP, será que teria tantos fãs e tantas visualizações? Será que se ela filmasse as dificuldades de pegar ônibus para ir à escola, mostrar a realidade do ensino no Brasil, mostrar as ruas assustadoras à  noite, a mãe faxineira, será que ela teria mais de 15 mil visualizações?

Como é louco esse mundo virtual! Todos podem virar celebridades, mostrar suas vidas, suas manias, roupas, marcas, cores de cabelo, como fazer unhas, que cores usar, podem mostrar tudo. Podem ser vistas por milhares de pessoas estranhas, como se estivessem na TV, nas telas do cinema. Podem ser reconhecidas e admiradas ou odiadas, fazem perguntas, se tornam amigos, e isso pode ser uma válvula de escape para alguns.

Talvez se as meninas pobres pudessem ou tivessem essa iniciativa para fazer algo de útil para as outras amigas, como ensinar uma técnica de fazer cabelos, unhas, montar algo útil para casa, fazer artesanatos, mas ensinar  alguma matéria que elas saibam mais, a maioria que tenho visto apenas querem mostrar como rebolar a bunda de forma vulgar, que triste! Daí eu penso, que o nível de ensino, de vida, nível social, diferenças das escolas particulares com públicas é tão imensa, é um abismo tão profundo que nem compensa perder tempo.

Quando vejo algumas adolescentes fazendo vídeos com tutoriais eu realmente paro para ver, para comentar, para incentivar, fico admirada e ao mesmo tempo triste, porque a realidade da maioria é tão simples e diferente, penso nas meninas aqui do morro, das meninas que dançam funk, que falam de sexo, que já estão grávidas. Penso que futuro terão? Fico mesmo triste, pois elas têm as mesmas possibilidades de fazer um vídeo e postar coisas bonitas e aprender com outras que fazem isso, mas não querem, não fazem, perdem momentos da vida que jamais voltarão!

Por um lado fico feliz e por outro muito triste. A adolescência é o momento de criação, de aprendizagem, de sonhos, de vida, de alegrias, de inventar novas formas de viver e criar seu mundo próprio, mas o que vemos é um mundo torto, feio, sem perspectivas de vida, sem futuro. Apenas uma grande repetição de histórias tristes e pobres! Feliz daquelas meninas que podem sonhar e fazer um futuro bem melhor, com estudos, formação de qualidade, famílias estruturadas, estudadas, seguras.

Feliz de quem tem uma alma inquieta e buscadora e acima de tudo contam com apoio financeiro e emocional das famílias, mas feliz também daquela que apesar de seu histórico pobre e de dificuldades fazem de tudo para mudar, estudam, se esforçam, mudam o rumo da história para um conto de fada, com final realmente feliz e real!!!!

Márcia Raphael.

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